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Gunga: O símbolo do Poder...O guardião da voz.

Gunga: O símbolo do Poder...O guardião da voz.

A palavra gunga, da mesma forma que jiló, bunda, caçula, kalunga, samba, quilombo, muleque, curinga, xingar, ginga, missanga, quiabo, dendê, tanga, quitanda, canjica, calango, cafuné, bamba, candomblé’, entre outras que, enriqueceram o português falado no Brasil, pertencem  ao tronco linguístico Bantu de Angola e do Congo, precisamente.Gunga, ou melhor N’gunga, palavra pertencente a vários idiomas Angolanos como o Umbundu, o Kimbundu, o Kikongo, e o Lingala,  significa “Sino”.  


Ongunga = O sino.Na cultura da minha etnia, os povos Ovimbundu do planalto de Benguela, o gunga (sino) não se refere apenas ao instrumento de percussão em forma de ferradura. Tradicionalmente, o gunga, de boca única ou dupla, simboliza autoridade máxima, um emblema de poder que, pode aparecer em substituição do termo Soma Inene, significando o grande rei.  O rei, que recebe o gunga como herança, nunca se distancia dele e, como objecto específico para realeza, simboliza o seu poder.

Socialmente, o gunga (sino) é utilizado para a marcação de ritmos, iniciação e finalização de eventos, anunciação, ponto de encontro e agrupação, comunicação, códigos de sinais, mediação, intercessão, alerta e proteção.Existe um comportamento racista acadêmico no Brasil que consiste em desqualificar certos aspectos da cultura e presença africana, afirmando-as como Indígenas. Pela diversidade significativa da palavra gunga, também por ter sido um dos nomes do antigo reino do Kongo (Kongo dia Ngunga), a ilha/praia da Gunga em Maceió, no Estado de Alagoas, na região nordeste do Brasil, merece mais atenção. Deve-se exigir pesquisas mais abrangentes e robustas, pelo fato histórico da existência de Quilombos, como o do Palmares de Ganga Zumba e Zumbi.Na sua variação etnolinguística, o gunga, é chamado de gonguê no maracatu, uma manifestação cultural da música folclórica pernambucana Afro-Brasileira nascida da tradição do rei do Congo.Gonguê ou Ngonge, é a palavra que finaliza o nome do meu avô paterno, Satchingonge, o grande sino.

O seu simbolismo espiritual é vasto e posso citar que é visto como um possessor de encantos, tendo supostamente poderes mágicos como um amuleto, um patuá.Em Angola, há quem diga, num domingo de manhã, ao tocar do sino,  “Eu vou para o gunga”, impondo que vai para a igreja, ou seja, que vai responder a chamada do sino.

Os toques de chamada do berimbau gunga, na roda de capoeira, simbolizam um sino. Algo que nos anuncia como guardiões, zeladores, em controle do nosso redor, que nos faz mestres dos nossos círculos.N’gunga, a voz que se ergue acima de todos os outros instrumentos, como um rei que governa o seu povo.

Pesuisa: Professor Buscapé. 
Fonte:KANDIMBA

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