O caxixi, instrumento da percussão afro-brasileira
que está
inserido na perspectiva de manifestações populares, mais conhecido pela
parceria com o berimbau na capoeira.
A produção e utilização sonora de caxixis, também chamados
chocalhos de cesto, em atividades de educação musical no ensino básico é uma
opção com múltiplos aspectos positivos, entre eles:
a) a prática da
cestaria, atividade ancestral capaz de desenvolver habilidades motoras;^
b) através da
confecção do caxixi estimula-se a percepção da transformação de materiais
orgânicos - cipó, cabaça e sementes - em produç
ão sonora;
c) as inúmeras possibilidades rítmicas com caxixis.
O caxixi é um pequeno chocalho feito de palha trançada com a
base de cabaça (Cucurbita lagenária,Lineu) cortada em forma circular e a parte
superior reta, terminando com uma alça da mesma palha. (...) No interior do
caxixi, há sementes secas, que ao sacudir dá som característico (REGO apud.
KASADI, 2006:99).
Em “Contribuição Bantu na Música Popular Brasileira”, Mukuna
destaca o caxixi como um dos remanescentes da cultura bantu no Brasil,
compreendendo “bantu” como as culturas localizadas na região do Congo e Angola,
encontrado na região do rio Kasai, um dos maiores afluentes do Rio Congo. O
caxixi, conhecido na região de origem como dikasá, tem valor ético particular
na cultura do Congo, associado com cerimônias de iniciação que marcam o ritmo
de vida da sociedade e invocam o “colégio” dos espíritos protetores da
sociedade e suas forças vitais, nas quais tem a função de fornecer o padrão
ritmo básico, além de uma função extramusical, a de ser parte dos adereços
cerimoniais.
A análise de Mukuna sobre a mutação de elementos bantu do
tradicional ao popular no Brasil destaca que este processo é condicionado por
uma ruptura, no caso a desterritorialização do povo bantu tirado de sua terra
natal devido ao regime escravocrata.
O caxixi sendo um dos elementos desta cultura bantu que foi
transplantada para o Brasil, adquiriu outros usos e funções, ligados à
religiosidade e principalmente a práticas populares.
O caxixi é o parceiro do berimbau, segurado e utilizado ao
mesmo tempo com os toques do berimbau. O caxixi enquanto parceiro do berimbau
duplica o padrão rítmico dado pela baqueta na haste metálica do arco e dá
ornamentações rítmicas entre o ritmo básico marcado do arco. (MUKUNA, 2006).
A parceria entre caxixi e berimbau na capoeira é responsável
pela maior popularidade deste instrumento. Sobre a utilização do caxixi junto
com o berimbau, pode-se afirmar que em suas regiões de origem na África eles
não foram tocados juntos, pois pertencem a diferentes regiões e usos
cerimoniais ou sociedades funcionais (MUKUNA, 2006, p. 160). Vários
pesquisadores concordam que o uso do caxixi juntamente com o berimbau ocorreu
no Brasil, por outro lado não há registros precisos das circunstâncias que
levaram os tocadores de berimbau a utilizarem o caxixi.
Souza em “Música na capoeira” relata que, de acordo com
informações pessoais de Pierre Verger e Gerard Kubik, o uso em conjunto por um
só instrumentista do berimbau e caxixi não foi presenciado durante a estadia de
ambos na África. (SOUZA, 1998, p. 21). Graham escreve sobre modificações no
berimbau ocorridas no Brasil: o uso do arame, do caxixi e do dobrão. (GRAHAM
apud. SOUZA, 1998, p. 22).
Não há informações precisas de quem tocou pela primeira vez
o berimbau com o caxixi, e como, onde e por que ele foi introduzido ao
berimbau. A ausência de informações deste tipo pode estar relacionada à
escassez de registros históricos sobre capoeira, manifestação que foi proibida
pelo Código Penal até meados do século XX. As entrevistas com mestres-capoeira,
porém, serviram para levantar questões atuais demandadas pelos capoeiristas,
como a definição de políticas públicas adequadas para a valorização dos
mestres.
Referências:
ABIB, Pedro. Um menino de 92 anos. In: Crônicas da
capoeiragem. Disponível em: http://portaldacapoeira.com. Acesso em 23/08/2010.
______. A importância da capoeira nas escolas. In: Crônicas da capoeiragem.
Disponível em: http://portaldacapoeira.com. Acesso em 23/08/2010.
BURKE, Peter. Variedades da história cultural. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2000 CANCLINI, Nestor Garcia, Culturas
híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4 ed. São Paulo:
EDUSP, 2003 CONCEIÇÃO, Jorge de Souza. Capoeira angola: educação pluriétnica
corporal e ambiental. Salvador: Vento Leste, 2009 GIL, Gilberto. Discurso do
ministro Gilberto Gil na solenidade de transmissão do cargo. In: Cadernos Do-In
Antropológico. Brasília: Ministério da Cultura, 2003, p 9-15 GUERREIRO, Goli. A
trama dos tambores: a música afro-pop de Salvador. Salvador: Editora 34, 2000
HALL, Stuart. Que negro é esse na cultura popular negra? In: Revista de
Comunicação Lugar Comum. Rio de Janeiro: Universidade Nômade: Laboratório de
Território e Comunicação (LABTeC/UFRJ), 1997
Resumo de texto/ publicação: Professor Buscapé, Teresina-PI
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